Mostrar mensagens com a etiqueta amélie aime - amélie n'aime pas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta amélie aime - amélie n'aime pas. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Texto

Colecciono momentos e objectos como se me fossem indispensáveis para respirar. Sobretudo momentos. Guardo-os na cabeça, à espera que a vida mos coma. E quero-os assim, não registados, desarrumados, surpreendentes numa noite em que algo os despoleta. Um cérebro desarrumado sabe como dias a café. Sem comer de manhã, dedos ansiosos e ar cortante. É bom, é tudo para mim, essa ideia de que eles sempre voltam. E de que se podem confundir com sonhos, mentindo suavemente à realidade. E se não voltarem, também não sei que existem. Poupa-me um suspiro - talvez uma lágrima - sobre um papel amarrotado.
Recordo-me de um fragmento de imagem. Devia ter uns três anos, e olho para o meu pai, sentado à cabeceira da mesa, ar confiante, cotovelo equilibrado por razões de etiqueta. E um sorriso verdadeiro na cara. Rugas breves, de feitio. Esta figura surge repetitivamente na minha cabeça, como se a maldissesse ou quisesse guardá-la muito perto.
Não sei o que a provoca, sei que é de ferro. Cada vez que penso nela, a nostalgia invade, tecido macio. E provoca uma torrente de outros pedaços que me percorrem, até ao embrião. De pessoas que não vejo, situações caricatas, medo, vergonha, tudo, tudo passa. Ao ponto de não saber se me fez bem esta viagem. Se lembrar é melhor do que estar sempre aqui e agora, realidade gasta, mas palpável, inegável, existente.
Não sei. Mas não as quero perder.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Stockholm Syndrom

 
AMSTERDAM
 
 
 
 
 
Já alguma vez repararam no Homem que espera ao longo do paredão da praia dos Pescadores, na Ericeira?
 
Certa noite, no regresso a casa passei por lá e sem qualquer razão pus-me a olhar ao longo da costa, até que vi, recortada, uma figura sentada, de mãos ao colo, pés baloiçantes, só, ali, à espera de alguma coisa.
Não sei o que é, não sei mesmo, mas tem de ser alguma coisa. Ninguém arrisca a erosão lenta e fria sem razão.
Comecei a pensar numa infinidade de coisas, tudo poderia ser. Apresento-vos a melhor ideia.
O Homem era cativo do mar. Tal como uma vítima de rapto, sofreu às suas mãos, a sopa estava no balcão, a água numa tigela rente à porta. O frio fazia-o adoptar uma posição fetal.
Mas havia alguma coisa de errado. Não havia ódio. Passaram meses, anos talvez, mas nada crescia nele, não agora. Antes sim.
O mundo era aquilo. Duas palavras por dia, utilização imprópria e a luz por um buraco na parede.
Escuro.
Dias em noites, vice-versa.
O único traço de humanidade estava na visita do captor.
Nada mais restava.
Só toques no braço,
E momentos a partilhar.


8 o'clock and we agree

Gosto que me faças sentir burro da maneira certa.
Mesmo que não tenhas o terror presente nos ossos, favor da vida.
De vez em quando viver de pulmões cheios é preciso, por todos aqueles dias em que os comprimidos seduzem e a melancolia mata lentamente, feita de cigarros e promessas de "amanhã vou".
Tu vives numa cidade berrante, em que os segundos acontecem cheios, rebentam até ao próximo, e eu longe, no meio dos meus pensamentos, na calma enlouquecida de uma pequena vila.
Por isso, quando as nossas mentes batalham - não são discussões, antes pretensiosas tertúlias, como todos temos - isso revela-se, o suficiente para me deixar sem ar e com a sensação de coisas a passar.
Tudo passa, tudo passa.
Até me fartar e deixar bilhetes de adeus na soleira de portas amigas.
Não voltar.

domingo, 18 de agosto de 2013

Pool Shark

Flutuo entre páginas rasgadas nos cantos mais sinistros da minha mente, deixando a marca de quem quer muito ter algo para dizer.
Uns dias penso que sim.
Outros, nem por isso.
Reservo para mim tudo aquilo que nunca te expus, como se ao lavar a loiça te surja o "eureka". E desses lábios possa um dia ler as palavras "esquece tudo isso".
Para mim, não há maior prazer que o elixir ardente que desinfecta bocas cuspindo mentiras e palavras de ódio. Deve ser por isso que vacilo entre pessoas como um pêndulo cansado. Porque a minha verdade nunca é a mesma.
De fora ficam todas essas ideias que não se concretizam. Mas tu chegas lá.