segunda-feira, 26 de maio de 2014

Voracidade

Estamos sentados, frente a frente, já quase sem sentido a consumir o amor que temos com deslizes mal-calculados de língua. O veneno não tem de ser construtivo. Olho para a tua boca e só vejo a voracidade com que me destróis e procuro espelhá-la, mesa incluída, com talheres e copos. Uso tudo para me poder defender, porque nós não chegamos àquele debilitado flanco que vocês têm com palavras apenas. Antes em toques que cheiram a juventude. Por outro lado, cada bala vossa é certeira, com o poder de enlouquecer e bloquear os sentidos. Causam o amor-ódio.
Gostava de treinar a forma como digo as coisas, e dessa forma poder dominar o que quero. Apagar aquele milésimo de segundo que revela a minha intenção nas pausas, que mostra o quão desarmado fico nestas conversas-xadrez que constituem o relacionamento humano, constroem química ou matam futuros. Controlo emocional preocupante.
Era só isto.
Tê-lo mudava tudo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Tangerina

Estamos ligados.
Fio vital, teia.
Mundo doce, em branco.
Gomos de inverno.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Trova

Sabes que não posso assegurar indiferença face à tua nudez programada. Descrições de linhas de costa em dias azuis-fosco servem-te bem demais para que me apodere delas e lhes force um "nós".
Mas se um dia os teus olhos resvalarem para essa Almada, espero-te, a ti, e ao teu toque que congela esta maré de destruição auto-provocada.
Espero como a estrela cadente espera o silêncio de um desejo que não se partilha.

sábado, 3 de maio de 2014

Incompleto 2

Na mente do homem onde tudo o que existe é raiva, as decisões tomam-se abrupta e decisivamente. Para talvez depois as renegar.
A primeira coisa a notar é que o conheço mas nem sempre existe em mim, só nos dias em que os gritos são mentais e galopam.
Quem o conhece tende a arrepender-se, porque é um homem que nada tem para dar. E quando não se dá, não se pode ser.

Susto

Temo a surdez dos meus inimigos porque travo batalhas verbalmente e penso incoerente que lhes doem pelo corpo todo como folhas a arder.
Cravo a minha espada de epopeias suadas como o mar na voz. Breves gotas, persistentes e acutilantes. Doces para dentes feridos. Imune à própria razão.
E, enquanto emudeço de raiva, o pensamento flui em mim, na leveza momentânea de um susto.
Só depois o arrependimento, antes trompetes de parada que me restituem o que sou e tudo o que não fui dantes.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Vestido

A menina deste blog começou uma caixa de palavras para o mês de Maio.


"É exactamente assim que se transforma um verbo em reacções".
Ficaste pálida e olhaste para o teu vestido. Percebi que percebeste.
E desculpem-me se esta história não passa de um telegrama, mas não acredito em fábulas que não são curtas.