São seis da manhã,
em guerra com o bolso,
procuro o tabaco e pondero um café.
Pronto a afagar o monstro que mora no meu caderno,
até passar por uma,
duas
fotografias tuas,
e rabiscos de noites em que o amor molhava a sala.
E penso no teu delicado sentido de mau gosto,
nos nós morenos dos teus dedos,
na tua cara torcida em desilusão,
mil imagens que não posso revelar.
Faço o café para não perder este momento
de contemplação e memória,
nostalgia pouco adulta,
distante,
lá num canto,
um papel amachucado sobre a mesa de cabeceira.
Noutros tempos, saías-me do fígado.
Explica-me
esse processo longo de metamorfose
que te viu tornar em filme de domingo à tarde,
quando partiste de ansiolítico.
don't go and lose your face/ at some stranger's place / and don't forget to breathe / and pay before you leave / lay me down to crawl
terça-feira, 29 de julho de 2014
sábado, 5 de julho de 2014
A-ko.
O Jorge não consegue dormir nas vésperas de exame, mas não percebe porquê. Após umas horas desiste, e olha pelas grades da janela do seu quarto, na procura do galo urbano que nunca conseguiu perceber onde existe. Quando canta, veste-se e sai de casa, os pés dançantes na monotonia do primeiro autocarro.
"Há algo de tocante no amarelo torrado da autoestrada com o sol".
O primeiro "bom dia" que lhe sai da garganta só encontra resposta no varrer ritmado de uma faculdade vazia. E o Jorge encurta a sua vida com um isqueiro.
Algumas páginas depois, e o caminho inverso, retorna ao seu quarto, onde as canetas moram frias e um jogo ainda não foi resolvido. Ouve as mesmas frases de uma mãe feliz, mas viciada na sua depressão, que envelhece sem dar conta. O cabelo branco de há dois anos multiplica-se, silenciosamente.
E, no seu quarto, o Jorge escreve textos.
Depois deita-se, e chora um pouco.
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