Escrevo-vos hoje este início, de mãos frias. Trago histórias de guerra, histórias de navios, de piqueniques bizarros e de paixão injectada. Carrego-os comigo mas não as vou partilhar. O que se seguirá é o nosso enredo depois de me colocarem no braço um chip solúvel chamado "V". Nos meus dias, o "V" era uma inovação tecnológica que servia aos espíritos livres. Há várias maneiras de o utilizar, dependendo da vontade de cada um, e é isso que o torna tão procurado.
O seu propósito é o de criar linhas temporais ao seu utilizador, de acordo com aquilo que o mesmo lhe explicita. Digamos que quereria viver num mundo onde tenha cinco filhos, uma esposa, uma conta bancária recheada e um emprego de sonho. O "V" criaria esse universo para meu usufruto. Pode até estipular-se o tempo que desejamos lá viver.
Parece uma invenção perfeita. Os responsáveis pelo seu desenvolvimento publicitaram-na enquanto tal, acrescentando uma opção, somente para os "verdadeiros aventureiros": o modo aleatório. Neste modo, o "V" cria um universo com todas as variáveis ao acaso, com excepção das leis da Física e com o mesmo desenvolvimento tecnológico do nosso Mundo. Podemos viver nele tão pouco como cinco minutos ou tanto como 80 anos, é uma incógnita. Há três maneiras de escapar deste ciclo de vidas ininterrupto: Desligar o modo aleatório, regressar ao universo de origem fora deste modo ou a morte.
Eu sou um destes "verdadeiros aventureiros". Eu liguei o modo aleatório. O meu "V" avariou. Estou preso.
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