Tens - ao mesmo tempo - em ti, a expressão imutável de uma estátua e a
sofreguidão de quem, ao meu primeiro toque, reverte para o estado líquido.
Se tiver razão, tocar-te onde me queres será como entrar em água salgada,
tornozelos, joelhos...dedos que testam a resistência do tronco. Ou talvez só o
ímpeto de testar a temperatura num ritual, para depois te beber de uma vez.
Mas e se em vez disso, preferisse andar sobre ti e fazer de profeta, ou te
dividisse ao meio para que toda a pureza da minha alma te atravessasse e visses
que parecem quarenta anos de promessas desfeitas e corpos rígidos no meu rasto,
infinitas mulheres feitas em pedaços na minha consciência, e todas aquelas que
hão de vir depois de ti, num só grito?
Nunca vou estar certo do que fazer, mesmo que te trate como vida, ou só
como um elixir doentio do qual sugo vitalidade.
És perigosa, assim. E eu não suporto, não posso suportar alarmes, nem ler
sinais de fumo.
Se para cada acção há uma reacção, eu não me posso transformar contigo.
Alguns de nós encontram conforto na impossibilidade de desilusão, em já ter
visto parasitas a morrer por não quererem mais ceifar do corpo o seu alimento.
Estes não querem o peso da simbiose, nem o segundo de êxtase que se
transforma em anos de cicatriz.
Por isso, sempre que passo por ti, peço licença para que nem os tecidos que
nos cobrem ganhem o cheiro um do outro e os aromas morram separados, mas
cheios, em vez de juntos, amargos e gastos.