domingo, 22 de fevereiro de 2015

smog

Tenho um amigo, na realidade um amigo que por dissabores se tornou relâmpago, que disfarça as loucuras por baixo de nenúfares em flor, ou mais até como pato num lago. Tudo calmo à superfície, enquanto as patas desenvolvem um festival frenético, capaz de separar moléculas e reverter água para hidrogénio.
Ele mente. Copiosa e fantasticamente. Quando outros nele vêem apenas uma sequência aleatória de factos comprovadamente passíveis de rejeição, eu vejo a mente de uma criança que ainda o é, de vívida imaginação e detalhes que trazem lágrimas aos olhos. A sua mãe é professora, contudo não há um livro à vista nas suas estantes em casa. O pai era agente de uma qualquer força armada, mas trabalha num aeroporto em Bruxelas. Este tipo de coisa.
Não o via há dois meses. Não lhe falava longamente há ano e tal.
Hoje redescobri o susto que é crescer desamparado. Tenho medo, mãe. Envolve os teus braços nesta fraca estrutura óssea até quebrar. Tolda-me os sentidos para não me esconder do mundo, e oferece-me a imagem dos adultos que têm de sorrir para que os filhos anseiem o pagamento de impostos.
Deixaste-me em 2007 e nunca esteve tanto frio em casa.


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