terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"Não te custa, às vezes, ter ideias?"
"Não é preciso tê-las. É preciso que apareçam e desapareçam, que fiques atormentado com isso, e que nunca mais te lembres. E depois, escreve, à procura, para nunca mais as encontrar."

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

lone star

Continuas evadida.
No fim do mundo, continuas evadida, continuas precoce, continuas calma.
Eu? Eu vou respirando. De vez em quando ainda olho para aí, está tudo na mesma.
Ainda pego no caderno. Ainda imagino umas linhas, um caminho.
Um suporte de vida.
É melhor ficares aí.
O teu pedestal é seguro. É indolor. É o tipo bom de insípido.
Nenhum monstro se esconde debaixo da tua cama, nada está em perigo.
Nunca viveste uma tempestade.
Nunca te fingiram um desgosto.
Continua aí, onde tudo é bom e a fruta é doce.
Hei-de chegar para te apodrecer.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

-masu

Estou deitado numa cama portátil,
Fui adoptado pelo meu irmão.
O meu mundo não começa sequer a fazer sentido.
Jogo com pessoas e palavras para me sentir melhor
Tento que nada seja ao acaso
Tento que se perceba o meu desespero
Afogado em páginas para ninguém ler.
Afogado em letras feias sem que ninguém lhes diga.
Olho para a cara da miúda à minha frente e construo um futuro porque vivo neste sonho como forma de escape.
Lido com as mulheres como se fossem a solução.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

E

O que eu faço é assassinio. Eu, e eu só, mato tudo o que lhe resta na cabeça, mutilo qualquer pedaço de humanidade que lhe reste. Dia-a-dia, eu roubo-lhe um passado que ela guarda com as unhas, com toda a vontade e desespero, com os dentes, com a vida. E eu, num deslizar mal pensado de língua, tiro-lhe tudo, tudo  o que ela foi, animalizo-a, minimalizo-a, e ela torna-se na mobilia da casa que me matou a mim.
Eu só queria mais um segundo são com ela, só queria mais um instante dela para me lembrar, para não repetir, para guardar sempre, aqui tão próximo, infinitamente longe.
Só mais um monólogo de queixas acerca da vida que nos maltrata, da vida que nos polui, que nos assalta, tudo isto num sofá confortável, sobre a mesa velas aromáticas e no seu corpo roupas de seda.
Só mais um instante de medos de uma vida terrível sem a ter.
Apenas mais um. Apenas uma merda de um cigarro com a minha mãe.