quarta-feira, 29 de outubro de 2014

#345

Arrastas os fios como te levaria ao altar,
o jogo das pestanas sem sentido distorce-te o sorriso,
o ar empurra-te para a cadeira paliativa.

Quando andaste não o sentiste,
mas arrastaste a Terra contigo
e com ela toda a sabedoria antiga,
a natureza,
o zodíaco,
o desenho celeste no teu cobertor fiel.

Brevemente
viriam os sons,
as onomatopeias,
os ditongos,
as cores e as histórias.

Para venda:
sapatos,
tamanho 25,
nunca usados.

morfeu

como se estivéssemos sós num quarto,
e houvesse um copo de veneno a meio.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Irish Pub

Lembro-me que voltava de um dia no Hospital, o mundo já estava deitado, agarrado aos joelhos, para ir ter ao restaurante com o meu irmão, quando me tropeças com estórias de pôr-do-sol em estrada aberta, o teu Tom nos ouvidos.
Foste vítima de um infame truque que uso com frequência. Perdoa-me a travessura. Acontece às melhores. Aliás, acho que nem foste vítima. Viste-o a quilómetros e imitaste princesas de filmes infantis, donzelas em desespero com olhos na nuca, o príncipe mata dragões.
Eu tenho o meu encanto, desde que não haja silêncio.
foi o s(hh)ilêncio que nos matou, e motivou a tua sentença.
Mas pensar que fomos internacionais juntos, por horas! E na sensatez da tua voz.
Tudo me acalma e canta canções de embalar à nossa(?) história.

Pertencer

There is comedy, and tragedy, but we're neither.

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Abro livros de um dia, pronto a colaborar nesta coisa entusiasmante que é o pertencer (dicionário das emoções), coisa tão real, feita de heróis televisivos. Histórias de sucesso.
Tenho a dizer que ao menos me amam o carácter, compreensivo - sem "eu" - amam-me a palavra que de rompante brota e descansa olhos baços e ombros baloiçantes, disso sei, disso sei. Que me chega de ti um "sim" carregado de confiança reluzente, mas de tons adocicados, paternais - acompanhadas de um rodar de saia - que se reservam aos cantos de nós, que lá moramos.
Apreciam-me o vocabulário para sensibilizar.
O pertencer é uma tentativa de agir no sentido do que espero, sem chegar lá. Pertenço-te, pertences-me. Mas só quando as letras te alcoolizam, e nunca no meu registo. De poças a oceanos.