Mostrar mensagens com a etiqueta possibly maybe. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta possibly maybe. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Borboletas

Para ele, só existiam dois tipos de pessoas no mundo: os que tinham ouvido o “Samba pa Ti”, e os que não o tinham feito.

Ele admirava simples tons, pele aveludada, descia nos dedos do mundo para sacos secos de feijão. Perdia o fôlego com amores no olhar, pensava “à beleza da mulher”! Quando se enfrascava nos bares de Lisboa. Carregava o som da música ao vivo em si. Os poros antecipavam todas as sensações, beijos sonoros, carne trocada.

Era assim.
não tem de ser como se quer.
é só como se é...

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

João e Maria

"espero que agora troveje. estou aqui deitado, no meu trono-saco de cama."

O mundo não me pode tocar como toca quando tenho os pés no chão. O dia não começa enquanto a peça não cair, não acaba quando eu quero, não se funde com a miséria, não, não, não, não pode nada contra mim aqui, até tenho coragem para um sorriso, sincero, como quem transforma madeira em meninos de verdade e destila delicadeza pelos poros.

Quero imaginar. Quero música como história "agora eu era um herói", até ser algo melhor "eu já não tinha medo".

Quero tudo o que não deu para ter.


Feliz Natal.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Doce

Folheando albuns, ver-te-ia, doce.
Sardas de canela na tua cara, um sorriso especial,
verões analógicos que suspiro não poder ter.

E sempre em nós a calma do mundo.
Coisas que passaram por já terem deixado de ser.
Mas duetos inesquecíveis,
tangos efervescentes
tu em mim,
eu em ti,
desvanecidos
copo d'água.
Meio-cheio.
Quase cheio.

Transbordou.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Youth Novel

Farto de beber palavras e segundos de quase-amor.
Lábios que observo, formas geometricas atraentes.
olho-te: murmuras afecto...
não quero ser
brinquedo estragado
nas mãos de uma jogadora emocional.

A água ferve
a mão teme
quando devia mergulhar.

sobra um dia desfeito
e tempo para limpar o chão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Stockholm Syndrom

 
AMSTERDAM
 
 
 
 
 
Já alguma vez repararam no Homem que espera ao longo do paredão da praia dos Pescadores, na Ericeira?
 
Certa noite, no regresso a casa passei por lá e sem qualquer razão pus-me a olhar ao longo da costa, até que vi, recortada, uma figura sentada, de mãos ao colo, pés baloiçantes, só, ali, à espera de alguma coisa.
Não sei o que é, não sei mesmo, mas tem de ser alguma coisa. Ninguém arrisca a erosão lenta e fria sem razão.
Comecei a pensar numa infinidade de coisas, tudo poderia ser. Apresento-vos a melhor ideia.
O Homem era cativo do mar. Tal como uma vítima de rapto, sofreu às suas mãos, a sopa estava no balcão, a água numa tigela rente à porta. O frio fazia-o adoptar uma posição fetal.
Mas havia alguma coisa de errado. Não havia ódio. Passaram meses, anos talvez, mas nada crescia nele, não agora. Antes sim.
O mundo era aquilo. Duas palavras por dia, utilização imprópria e a luz por um buraco na parede.
Escuro.
Dias em noites, vice-versa.
O único traço de humanidade estava na visita do captor.
Nada mais restava.
Só toques no braço,
E momentos a partilhar.


domingo, 14 de julho de 2013

Temos de falar

Por baixo de um suave toldo, como circunstância, apagava-se mais uma cédula nas gotas de chuva.
Ele sonhava com dias frios, não precisava de apertos no coração.

Com um braço a cruzar por outro, procurava a força na fragilidade de um ser que se tornava em dois.
O seu ar era o nosso, às vezes sublinhado por rosas em flor, outras pelo aroma desagradável do fumo.
Mesmo dentro de si, sentia que uma peça faltava,
Entre o choro das manhãs,
No pesar dos dias.
Tudo deixava de ser.
A vida era agora um solo de violino triste enquanto a orquestra arrumava as pautas.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Serpentine

Por momentos, pensei que te vi na paragem, e logo bombeou através de mim um fundo falso de nostalgia.

Os anos passaram como leite, de um momento para o outro, e algo azedou. Nada nos resta, nada.
É apenas mais um punhado de minutos gasto a recuperar sentimentos, pessoas de ontem que lá deviam ter ficado.

Nada se repete. Não vale a pena furar dedos de novo, o sangue trocado nunca será igual.
Músicos surdos só produzem anti-som.
E, enquanto o autocarro fugia, deu para todas as memórias despontarem e criarem em mim uma profunda ingratidão pelo aroma que sobrava da vela apagada,

Não te perdoo, não me perdoes. Não quero o agora, quero a eternidade dos nossos segundos cúmplices pousados no cigarro hesitante, na boca seca do álcool.
Mas não dá.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

#189

Sinto que és o que não quero que ninguém aprenda. Que és a sensação em si mesma.
Não quero o teu peso, ninguém quer, mas insistes e força não falta para que nada mais seja o mesmo.
Os sons fora da realidade, conduzindo um preço a tudo.
O escuro que entra nos lençóis sagrados, de um casamento, de um funeral.
Podias ser um tapete, uma escadaria, mas não era o mesmo.
Podias ser uma janela partida, mas não servias.
Podias ser tu, intocável, atingível, provocando fraqueza nos joelhos e olhares de desânimo, mas só isso não bastava.
Precisavas de emoção verdadeira, e passaste a raiva para uma construção de miséria.
Perdeste o controlo…Agora estás em todo o lado, és de todos e não paras o teu movimento.
O ritmo é acelerado e destróis corações em música, em arte, em tribos.
Todos provam o teu veneno.
Todos são consumidos.