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sábado, 17 de outubro de 2015

Água


Tens - ao mesmo tempo - em ti, a expressão imutável de uma estátua e a sofreguidão de quem, ao meu primeiro toque, reverte para o estado líquido.
Se tiver razão, tocar-te onde me queres será como entrar em água salgada, tornozelos, joelhos...dedos que testam a resistência do tronco. Ou talvez só o ímpeto de testar a temperatura num ritual, para depois te beber de uma vez.
Mas e se em vez disso, preferisse andar sobre ti e fazer de profeta, ou te dividisse ao meio para que toda a pureza da minha alma te atravessasse e visses que parecem quarenta anos de promessas desfeitas e corpos rígidos no meu rasto, infinitas mulheres feitas em pedaços na minha consciência, e todas aquelas que hão de vir depois de ti, num só grito?
Nunca vou estar certo do que fazer, mesmo que te trate como vida, ou só como um elixir doentio do qual sugo vitalidade.
És perigosa, assim. E eu não suporto, não posso suportar alarmes, nem ler sinais de fumo.
Se para cada acção há uma reacção, eu não me posso transformar contigo. Alguns de nós encontram conforto na impossibilidade de desilusão, em já ter visto parasitas a morrer por não quererem mais ceifar do corpo o seu alimento.
Estes não querem o peso da simbiose, nem o segundo de êxtase que se transforma em anos de cicatriz.

Por isso, sempre que passo por ti, peço licença para que nem os tecidos que nos cobrem ganhem o cheiro um do outro e os aromas morram separados, mas cheios, em vez de juntos, amargos e gastos.

sábado, 15 de agosto de 2015

#374

o dia pode ser doce, cru ou meigo a todos os instantes, que eu sinto a tua falta.
podem belezas com ar natural esventrar janelas de sua casa,
empoleirando-se com ar lisboeta e decidido,
com a ponta de nostalgia espalhada pela cara
e nunca nada parecer tão atraente como sentir a tua falta.

podem anunciar nascimentos nos jornais,
e condensar todos os escorregas e baloiços do universo num só parque,
nem a adolescência escudada dos meus sonhos fez tanta falta.

faz falta que respires na minha presença,
que mereça endeusar-me em ti,
que dos teus lábios se rasgue um piano
e que eu esteja lá para ver.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Oralizante

"Estávamos entre dois copos, e eu não te conhecia, só achei que tinha de ser sorte estares sozinha. Pá, lá comecei a falar, não não me lembro muito bem do quê, sei que chegou a altura de pedir mais duas. Paguei, como o meu irmão me ensinou. Ele disse-me que era bom começar assim, e que os homens andavam sempre do lado da estrada. Foi mais por hábito do que por outra coisa, estás a ver? Então agradeceste-me - não rias!- e lembraste-me que um puto não podia pagar uma bebida tão à descarada. Tu ainda não sabias, mas eu estava mesmo a prever isso quando te respondi, e deve ter corrido bem, porque lá foste falando comigo, apesar de todas as dicas que já deves ter ouvido nos bares. Eh pá, e tu sais-te com a conversa das Ficções do Borges e a partir daí não podia parar mesmo que quisesse."

"Ah, então foi assim que acabámos aqui. Pois, percebo. Olha, foi muito bom, mas se calhar ficamos por aqui. Já são umas três, ou assim, e amanhã trabalho..."

"A gente vê-se pelo bar então."

"É isso. Assim não conversamos logo tudo."

"Foi giro. Talvez estar com um puto não seja assim tão mau, de vez em quando."

"(risos) Talvez não, talvez não..."

"Vá, beijinho"

"Vá..."

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Moon





Dizendo como nada aquilo que fazia, o mais certo seria que provava whiskeys em Lisboa, isso não lhe tirava ninguém.
Faltava-lhe uma mão para por à volta de uma mulher prometida,
A pertença. Lar-edredão.
Talvez noites de íntima companhia,
lado feio na boca de preconceituosos, no entanto
real.
Palavras de e para algúém,
ausência de copo-reflexo,
música de dias bons,
música.
Tanto lhe faltava,
não a cevada,
uma cintura,
mas nunca a cevada,
nunca o cotovelo,
nunca a base,
nunca os balcões,
uma cintura.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

...a garrafa vazia de manuel maria...

No fundo da minha garrafa está o vidro baço e molhado. gritos de infante, dentes a nascer. estão seres quebradiços, cera mal seca, dobrados sobre si, num grito que os joelhos abafam, lágrimas secas pela noite. está um futuro de crise. e por isso a bebo. para que lá esteja tudo isto, e não em mim.
No fundo da minha garrafa está outra. até à última moeda do bolso ou pormenor de consciência. até os casais felizes partilharem somente o silêncio. e a derradeira uva rebentar, suculenta.
Pano de fundo, a música ironicamente dedilhada em sol, quadros - antes cópias - bom gosto que se compra em cadeia, a vida em comunidade, dois dedos de conversa e a ficção do anonimato deitado em pétalas. de flores. de qualquer coisa bela.
E o meu ar morto, em contraste, rápido em movimentos cíclicos: pega, bebe, pousa, fuma. quatro passos. um fim.
o dia acaba.
 escritos rasgados. aerofagia.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Parasite



Agora só vejo momentos que roubo a quem os tem por si.
Levo o que quero da carne do mundo.
Tiro tempo de vida a quem pondera gastá-lo.
Vírus nunca, parasita.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Alex, 18

Já faz algum tempo que saltaste, mais de um mês creio. Mas contar os dias é cruel.
Vi descer o teu caixão, e conto-te um segredo: A morte fica-te larga, meu amigo. Como quem veste a camisa do pai.
Não fui capaz de te chorar no dia, nem no seguinte. O teu irmão precisava de mim, e por isso estive lá. Num corredor cheio de breves olás, porque o caos é de todos, aparentemente. Detesto isso.
A mostra de preocupação é o óxigenio de quem não está presente.

E, apesar de haver um, dois, muitos dias em que quero ir aí ter, não posso.
Mas fizeste a tua decisão, e foste andando uns passos à frente.
Eu já vou. Só mais uns-

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Stockholm Syndrom

 
AMSTERDAM
 
 
 
 
 
Já alguma vez repararam no Homem que espera ao longo do paredão da praia dos Pescadores, na Ericeira?
 
Certa noite, no regresso a casa passei por lá e sem qualquer razão pus-me a olhar ao longo da costa, até que vi, recortada, uma figura sentada, de mãos ao colo, pés baloiçantes, só, ali, à espera de alguma coisa.
Não sei o que é, não sei mesmo, mas tem de ser alguma coisa. Ninguém arrisca a erosão lenta e fria sem razão.
Comecei a pensar numa infinidade de coisas, tudo poderia ser. Apresento-vos a melhor ideia.
O Homem era cativo do mar. Tal como uma vítima de rapto, sofreu às suas mãos, a sopa estava no balcão, a água numa tigela rente à porta. O frio fazia-o adoptar uma posição fetal.
Mas havia alguma coisa de errado. Não havia ódio. Passaram meses, anos talvez, mas nada crescia nele, não agora. Antes sim.
O mundo era aquilo. Duas palavras por dia, utilização imprópria e a luz por um buraco na parede.
Escuro.
Dias em noites, vice-versa.
O único traço de humanidade estava na visita do captor.
Nada mais restava.
Só toques no braço,
E momentos a partilhar.


8 o'clock and we agree

Gosto que me faças sentir burro da maneira certa.
Mesmo que não tenhas o terror presente nos ossos, favor da vida.
De vez em quando viver de pulmões cheios é preciso, por todos aqueles dias em que os comprimidos seduzem e a melancolia mata lentamente, feita de cigarros e promessas de "amanhã vou".
Tu vives numa cidade berrante, em que os segundos acontecem cheios, rebentam até ao próximo, e eu longe, no meio dos meus pensamentos, na calma enlouquecida de uma pequena vila.
Por isso, quando as nossas mentes batalham - não são discussões, antes pretensiosas tertúlias, como todos temos - isso revela-se, o suficiente para me deixar sem ar e com a sensação de coisas a passar.
Tudo passa, tudo passa.
Até me fartar e deixar bilhetes de adeus na soleira de portas amigas.
Não voltar.