Não consigo deixar de imaginar que estou outra vez naquele recanto de uma quinta, suores ansiosos repelem o brilho do sol e a doce brisa, no melhor dia de Agosto.
São códigos que não percebo, esses do toque amargo; não sei o que é deslizar os dedos para além da pureza incauta, não sei, peço desculpa, não quero saber. Não me obrigues. É Agosto, por favor não.
Amarra-me o peso do silêncio. Acabaste e puseste-me os dedos nos lábios. Olhaste-me do mais doce que os monstros conseguem. Doce possessivo. Vergonha nos dedos. Senti-os tremer.
Voltei a casa e tudo soava a asfalto na bicicleta. A ocasional borracha que se debate com o piso. Tempo de deixar estes minutos debaixo de um cobertor.
...
..
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don't go and lose your face/ at some stranger's place / and don't forget to breathe / and pay before you leave / lay me down to crawl
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
domingo, 22 de fevereiro de 2015
smog
Tenho um amigo, na realidade um amigo que por dissabores se tornou relâmpago, que disfarça as loucuras por baixo de nenúfares em flor, ou mais até como pato num lago. Tudo calmo à superfície, enquanto as patas desenvolvem um festival frenético, capaz de separar moléculas e reverter água para hidrogénio.
Ele mente. Copiosa e fantasticamente. Quando outros nele vêem apenas uma sequência aleatória de factos comprovadamente passíveis de rejeição, eu vejo a mente de uma criança que ainda o é, de vívida imaginação e detalhes que trazem lágrimas aos olhos. A sua mãe é professora, contudo não há um livro à vista nas suas estantes em casa. O pai era agente de uma qualquer força armada, mas trabalha num aeroporto em Bruxelas. Este tipo de coisa.
Não o via há dois meses. Não lhe falava longamente há ano e tal.
Hoje redescobri o susto que é crescer desamparado. Tenho medo, mãe. Envolve os teus braços nesta fraca estrutura óssea até quebrar. Tolda-me os sentidos para não me esconder do mundo, e oferece-me a imagem dos adultos que têm de sorrir para que os filhos anseiem o pagamento de impostos.
Deixaste-me em 2007 e nunca esteve tanto frio em casa.
Ele mente. Copiosa e fantasticamente. Quando outros nele vêem apenas uma sequência aleatória de factos comprovadamente passíveis de rejeição, eu vejo a mente de uma criança que ainda o é, de vívida imaginação e detalhes que trazem lágrimas aos olhos. A sua mãe é professora, contudo não há um livro à vista nas suas estantes em casa. O pai era agente de uma qualquer força armada, mas trabalha num aeroporto em Bruxelas. Este tipo de coisa.
Não o via há dois meses. Não lhe falava longamente há ano e tal.
Hoje redescobri o susto que é crescer desamparado. Tenho medo, mãe. Envolve os teus braços nesta fraca estrutura óssea até quebrar. Tolda-me os sentidos para não me esconder do mundo, e oferece-me a imagem dos adultos que têm de sorrir para que os filhos anseiem o pagamento de impostos.
Deixaste-me em 2007 e nunca esteve tanto frio em casa.
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sexta-feira, 7 de março de 2014
Oralizante
"Estávamos entre dois copos, e eu não te conhecia, só achei que tinha de ser sorte estares sozinha. Pá, lá comecei a falar, não não me lembro muito bem do quê, sei que chegou a altura de pedir mais duas. Paguei, como o meu irmão me ensinou. Ele disse-me que era bom começar assim, e que os homens andavam sempre do lado da estrada. Foi mais por hábito do que por outra coisa, estás a ver? Então agradeceste-me - não rias!- e lembraste-me que um puto não podia pagar uma bebida tão à descarada. Tu ainda não sabias, mas eu estava mesmo a prever isso quando te respondi, e deve ter corrido bem, porque lá foste falando comigo, apesar de todas as dicas que já deves ter ouvido nos bares. Eh pá, e tu sais-te com a conversa das Ficções do Borges e a partir daí não podia parar mesmo que quisesse."
"Ah, então foi assim que acabámos aqui. Pois, percebo. Olha, foi muito bom, mas se calhar ficamos por aqui. Já são umas três, ou assim, e amanhã trabalho..."
"A gente vê-se pelo bar então."
"É isso. Assim não conversamos logo tudo."
"Foi giro. Talvez estar com um puto não seja assim tão mau, de vez em quando."
"(risos) Talvez não, talvez não..."
"Vá, beijinho"
"Vá..."
"Ah, então foi assim que acabámos aqui. Pois, percebo. Olha, foi muito bom, mas se calhar ficamos por aqui. Já são umas três, ou assim, e amanhã trabalho..."
"A gente vê-se pelo bar então."
"É isso. Assim não conversamos logo tudo."
"Foi giro. Talvez estar com um puto não seja assim tão mau, de vez em quando."
"(risos) Talvez não, talvez não..."
"Vá, beijinho"
"Vá..."
quarta-feira, 5 de março de 2014
Viagens - 1
Eu cabia sentado num muro, léguas à vista, num daqueles dias onde parece que amanhã é segunda.
Tinha o calor de um prado deitado à minha frente. Areia morta aos meus olhos no fio da distância. Estava sol, mas não dilacerante. Apenas o sol bom de que me recordo noutros dias. O feno soprado pelo vento, quase como se duas estações se unissem. Tinha o cantil de sobrevivência no colo. Sem ser necessário o confronto. Só a calma. Como se em breve fosse acordar e morresse um pouco. Esforçava-me para tentar não escravizar o momento com papel eterno. Está visto que falhei. Tinha de falhar. São pedaços incólumes que se perdem, mas que dignificamos no furto. Perde-se em originalidade, ganha-se no túnel de recordações arrependidas.
Senti que se o mundo fechasse um punho, soltava uma força benévola, como o assobio de alguém que te quer, uma mãe que te dá o pequeno-almoço. O pedaço inconsciente que aldraba a coerência.
Dois corpos não serviam de nada. Foi parte da corda-bamba da solidão desequilibrada no ponto certo. Foi necessário deixar em mim e não em nós.
À minha memória saltam histórias de outros, cariz semelhante, relatos diferentes. Gosto de ter uma.
Acabo-a com sentimentos contraditórios.
Deixa estar.
Tinha o calor de um prado deitado à minha frente. Areia morta aos meus olhos no fio da distância. Estava sol, mas não dilacerante. Apenas o sol bom de que me recordo noutros dias. O feno soprado pelo vento, quase como se duas estações se unissem. Tinha o cantil de sobrevivência no colo. Sem ser necessário o confronto. Só a calma. Como se em breve fosse acordar e morresse um pouco. Esforçava-me para tentar não escravizar o momento com papel eterno. Está visto que falhei. Tinha de falhar. São pedaços incólumes que se perdem, mas que dignificamos no furto. Perde-se em originalidade, ganha-se no túnel de recordações arrependidas.
Senti que se o mundo fechasse um punho, soltava uma força benévola, como o assobio de alguém que te quer, uma mãe que te dá o pequeno-almoço. O pedaço inconsciente que aldraba a coerência.
Dois corpos não serviam de nada. Foi parte da corda-bamba da solidão desequilibrada no ponto certo. Foi necessário deixar em mim e não em nós.
À minha memória saltam histórias de outros, cariz semelhante, relatos diferentes. Gosto de ter uma.
Acabo-a com sentimentos contraditórios.
Deixa estar.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Moon
Dizendo como nada aquilo que fazia, o mais certo seria que provava whiskeys em Lisboa, isso não lhe tirava ninguém.
Faltava-lhe uma mão para por à volta de uma mulher prometida,
A pertença. Lar-edredão.
Talvez noites de íntima companhia,
lado feio na boca de preconceituosos, no entanto
real.
Palavras de e para algúém,
ausência de copo-reflexo,
música de dias bons,
música.
Tanto lhe faltava,
não a cevada,
uma cintura,
mas nunca a cevada,
nunca o cotovelo,
nunca a base,
nunca os balcões,
uma cintura.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
João e Maria
"espero que agora troveje. estou aqui deitado, no meu trono-saco de cama."
O mundo não me pode tocar como toca quando tenho os pés no chão. O dia não começa enquanto a peça não cair, não acaba quando eu quero, não se funde com a miséria, não, não, não, não pode nada contra mim aqui, até tenho coragem para um sorriso, sincero, como quem transforma madeira em meninos de verdade e destila delicadeza pelos poros.
Quero imaginar. Quero música como história "agora eu era um herói", até ser algo melhor "eu já não tinha medo".
Quero tudo o que não deu para ter.
Feliz Natal.
O mundo não me pode tocar como toca quando tenho os pés no chão. O dia não começa enquanto a peça não cair, não acaba quando eu quero, não se funde com a miséria, não, não, não, não pode nada contra mim aqui, até tenho coragem para um sorriso, sincero, como quem transforma madeira em meninos de verdade e destila delicadeza pelos poros.
Quero imaginar. Quero música como história "agora eu era um herói", até ser algo melhor "eu já não tinha medo".
Quero tudo o que não deu para ter.
Feliz Natal.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Quem diria que um dia voltava a ver raquel.....
Num dos muitos tons de cinzento espremi uma expressão de surpresa desfeita. "Tu vais passar a tua vida com esta pessoa". Como quem aponta o óbvio erro entre números sequenciais, percebi pelo teu esgar na sua direcção, trovão que rebate na terra e treme a revolta electrizante nos poros da pele.
E que cara de lhe adivinhar os lábios e suar lágrimas no peito da sua morte...tantos capuletos e montéquios. Como o que eu senti em tempos. Essa cara que me pediste emprestada. Atravessaste a rua como se o que fomos se tornasse um "vai ficar para outro dia". E perdi tudo.
E que cara de lhe adivinhar os lábios e suar lágrimas no peito da sua morte...tantos capuletos e montéquios. Como o que eu senti em tempos. Essa cara que me pediste emprestada. Atravessaste a rua como se o que fomos se tornasse um "vai ficar para outro dia". E perdi tudo.
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