No fundo da minha garrafa está o vidro baço e molhado. gritos de infante, dentes a nascer. estão seres quebradiços, cera mal seca, dobrados sobre si, num grito que os joelhos abafam, lágrimas secas pela noite. está um futuro de crise. e por isso a bebo. para que lá esteja tudo isto, e não em mim.
No fundo da minha garrafa está outra. até à última moeda do bolso ou pormenor de consciência. até os casais felizes partilharem somente o silêncio. e a derradeira uva rebentar, suculenta.
Pano de fundo, a música ironicamente dedilhada em sol, quadros - antes cópias - bom gosto que se compra em cadeia, a vida em comunidade, dois dedos de conversa e a ficção do anonimato deitado em pétalas. de flores. de qualquer coisa bela.
E o meu ar morto, em contraste, rápido em movimentos cíclicos: pega, bebe, pousa, fuma. quatro passos. um fim.
o dia acaba.
escritos rasgados. aerofagia.
don't go and lose your face/ at some stranger's place / and don't forget to breathe / and pay before you leave / lay me down to crawl
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terça-feira, 15 de outubro de 2013
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Stockholm Syndrom
AMSTERDAM
Já alguma vez repararam no Homem que espera ao longo do paredão da praia dos Pescadores, na Ericeira?
Certa noite, no regresso a casa passei por lá e sem qualquer razão pus-me a olhar ao longo da costa, até que vi, recortada, uma figura sentada, de mãos ao colo, pés baloiçantes, só, ali, à espera de alguma coisa.
Não sei o que é, não sei mesmo, mas tem de ser alguma coisa. Ninguém arrisca a erosão lenta e fria sem razão.
Comecei a pensar numa infinidade de coisas, tudo poderia ser. Apresento-vos a melhor ideia.
O Homem era cativo do mar. Tal como uma vítima de rapto, sofreu às suas mãos, a sopa estava no balcão, a água numa tigela rente à porta. O frio fazia-o adoptar uma posição fetal.
Mas havia alguma coisa de errado. Não havia ódio. Passaram meses, anos talvez, mas nada crescia nele, não agora. Antes sim.
O mundo era aquilo. Duas palavras por dia, utilização imprópria e a luz por um buraco na parede.
Escuro.
Dias em noites, vice-versa.
O único traço de humanidade estava na visita do captor.
Nada mais restava.
Só toques no braço,
E momentos a partilhar.
domingo, 18 de agosto de 2013
Pool Shark
Flutuo entre páginas rasgadas nos cantos mais sinistros da minha mente, deixando a marca de quem quer muito ter algo para dizer.
Uns dias penso que sim.
Outros, nem por isso.
Reservo para mim tudo aquilo que nunca te expus, como se ao lavar a loiça te surja o "eureka". E desses lábios possa um dia ler as palavras "esquece tudo isso".
Para mim, não há maior prazer que o elixir ardente que desinfecta bocas cuspindo mentiras e palavras de ódio. Deve ser por isso que vacilo entre pessoas como um pêndulo cansado. Porque a minha verdade nunca é a mesma.
De fora ficam todas essas ideias que não se concretizam. Mas tu chegas lá.
Uns dias penso que sim.
Outros, nem por isso.
Reservo para mim tudo aquilo que nunca te expus, como se ao lavar a loiça te surja o "eureka". E desses lábios possa um dia ler as palavras "esquece tudo isso".
Para mim, não há maior prazer que o elixir ardente que desinfecta bocas cuspindo mentiras e palavras de ódio. Deve ser por isso que vacilo entre pessoas como um pêndulo cansado. Porque a minha verdade nunca é a mesma.
De fora ficam todas essas ideias que não se concretizam. Mas tu chegas lá.
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segunda-feira, 29 de julho de 2013
#216
É quase crime não ver os dias como músicas do Tom Waits, com o mundo ao alcance de uma chave partida e a um bourbon do buraco onde o Hank descansa.
Viver ao máximo, pelo mínimo possível, brutalizar cada olhar em fuga entre putas e insultos curtos, perceber o som da decadência num cinzeiro sujo - trôpego na maior dignidade, dicas de engate em onomatopeias para levar para a cama uma mulher dois sóis à frente do seu melhor momento com uma corda ao pescoço e matrículas por pagar.
Viver ao máximo, pelo mínimo possível, brutalizar cada olhar em fuga entre putas e insultos curtos, perceber o som da decadência num cinzeiro sujo - trôpego na maior dignidade, dicas de engate em onomatopeias para levar para a cama uma mulher dois sóis à frente do seu melhor momento com uma corda ao pescoço e matrículas por pagar.
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