quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"Des-ruptura"

Acordei a meio de uma discussão,
a soletrar o fim de uma frase,
de compaixão ausente.

As costas enfeitaram-me a visão,
de um ombro para o outro,
segundos permanentes.

corrente de braço,
elo.
Mãos que tocam para curar,
para não magoar.
Que nos unem
novamente.

"des-ruptura".

Moon





Dizendo como nada aquilo que fazia, o mais certo seria que provava whiskeys em Lisboa, isso não lhe tirava ninguém.
Faltava-lhe uma mão para por à volta de uma mulher prometida,
A pertença. Lar-edredão.
Talvez noites de íntima companhia,
lado feio na boca de preconceituosos, no entanto
real.
Palavras de e para algúém,
ausência de copo-reflexo,
música de dias bons,
música.
Tanto lhe faltava,
não a cevada,
uma cintura,
mas nunca a cevada,
nunca o cotovelo,
nunca a base,
nunca os balcões,
uma cintura.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

saw it written and i saw it say

A cada doente, um poema enjaulado.
Não se pode ter quartos vazios em casas de pano.

Vejo que não me crês, pelo toque.
Lê-me uma história, quero ouvir a tua voz calculada, a vibração calma dos dias. Fazes-me sentir novo e sem fios.
Quando já não estiver aqui, quero festas a todo o momento, especiarias no ar. Sorrisos leves. Sorrisos impossíveis no agora, não caras impassivas do agora.
Vou escrever a minha lista de música para as caras vestidas de preto. Deixar a ironia no ar. Mudar os lençóis da minha pálida aparência, talvez usar um chapéu laranja.
Quero tudo o que não posso agora, para no fim não me beijar o esquecimento.
Tenho medo como suores frios. Medo do amor que não posso sentir.
Medo de deixar o que conheço e se arrasta no pavimento.
Só a ti te diria isto.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Reikouzo

O lado da vida de quem planta maracujás no jardim é o lado da vida que não vais ter, crescendo no urbano mundo da cor que não muda.
O lado da vida de quem pendura retratos em paredes pintadas de fresco é o lado de quem perde pedaços e os cola à frente do mundo, a dor no afecto não pode ser repetida, melhor é a dor de falhar com a tinta.
Cada braço estendido um olho fechado. Cada copo pago, um número de guardanapo e sorrisos boémios.
Cada mundo de trabalho, uma esfera de impossíveis.
Séries, escritos e mau-olhado. Respiração celular. Paragem de autocarro.

Borboletas

Para ele, só existiam dois tipos de pessoas no mundo: os que tinham ouvido o “Samba pa Ti”, e os que não o tinham feito.

Ele admirava simples tons, pele aveludada, descia nos dedos do mundo para sacos secos de feijão. Perdia o fôlego com amores no olhar, pensava “à beleza da mulher”! Quando se enfrascava nos bares de Lisboa. Carregava o som da música ao vivo em si. Os poros antecipavam todas as sensações, beijos sonoros, carne trocada.

Era assim.
não tem de ser como se quer.
é só como se é...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Qualquer


de que servem as palavras belas?
A descrição de corpos, de sangue e vida pejada nos poetas da cidade em que tudo se vive na falta de ar. Os dias contados pela efemeridade, nostalgia, arrependimento de tinta gasta no papel.

De que serve uma carta que simula o toque e estende a distância e mata imagens?
Um olá, não saias da minha pessoa.

E quando tudo acaba?
Êxito. Foi. Passado.

#252

tango no copo
tango a dois tempos
tango no teu colo.

a dança dos dias no subsolo.
Lisboa das escadas molhadas,
Lisboa dos carros arrumados que não pagam.
Lisboa dos arrumadores com frio, mesmo no Verão.

Lisboa dos copos sem fundo
das pensões de fome,
dos imberbes sem futuro.
das pessoas sem nome.

hang on to your id

aos dias iguais fora de portas,
um obrigado.
A leveza das obrigações
num mar de diletância.
Objectivos.
Planos.
cafés, cigarros.
Copos
de Água.
Distracção efémera.