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sábado, 17 de outubro de 2015

Água


Tens - ao mesmo tempo - em ti, a expressão imutável de uma estátua e a sofreguidão de quem, ao meu primeiro toque, reverte para o estado líquido.
Se tiver razão, tocar-te onde me queres será como entrar em água salgada, tornozelos, joelhos...dedos que testam a resistência do tronco. Ou talvez só o ímpeto de testar a temperatura num ritual, para depois te beber de uma vez.
Mas e se em vez disso, preferisse andar sobre ti e fazer de profeta, ou te dividisse ao meio para que toda a pureza da minha alma te atravessasse e visses que parecem quarenta anos de promessas desfeitas e corpos rígidos no meu rasto, infinitas mulheres feitas em pedaços na minha consciência, e todas aquelas que hão de vir depois de ti, num só grito?
Nunca vou estar certo do que fazer, mesmo que te trate como vida, ou só como um elixir doentio do qual sugo vitalidade.
És perigosa, assim. E eu não suporto, não posso suportar alarmes, nem ler sinais de fumo.
Se para cada acção há uma reacção, eu não me posso transformar contigo. Alguns de nós encontram conforto na impossibilidade de desilusão, em já ter visto parasitas a morrer por não quererem mais ceifar do corpo o seu alimento.
Estes não querem o peso da simbiose, nem o segundo de êxtase que se transforma em anos de cicatriz.

Por isso, sempre que passo por ti, peço licença para que nem os tecidos que nos cobrem ganhem o cheiro um do outro e os aromas morram separados, mas cheios, em vez de juntos, amargos e gastos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Trova

Sabes que não posso assegurar indiferença face à tua nudez programada. Descrições de linhas de costa em dias azuis-fosco servem-te bem demais para que me apodere delas e lhes force um "nós".
Mas se um dia os teus olhos resvalarem para essa Almada, espero-te, a ti, e ao teu toque que congela esta maré de destruição auto-provocada.
Espero como a estrela cadente espera o silêncio de um desejo que não se partilha.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Viagens - 1

Eu cabia sentado num muro, léguas à vista, num daqueles dias onde parece que amanhã é segunda.
Tinha o calor de um prado deitado à minha frente. Areia morta aos meus olhos no fio da distância. Estava sol, mas não dilacerante. Apenas o sol bom de que me recordo noutros dias. O feno soprado pelo vento, quase como se duas estações se unissem. Tinha o cantil de sobrevivência no colo. Sem ser necessário o confronto. Só a calma. Como se em breve fosse acordar e morresse um pouco. Esforçava-me para tentar não escravizar o momento com papel eterno. Está visto que falhei. Tinha de falhar. São pedaços incólumes que se perdem, mas que dignificamos no furto. Perde-se em originalidade, ganha-se no túnel de recordações arrependidas.
Senti que se o mundo fechasse um punho, soltava uma força benévola, como o assobio de alguém que te quer, uma mãe que te dá o pequeno-almoço. O pedaço inconsciente que aldraba a coerência.
Dois corpos não serviam de nada. Foi parte da corda-bamba da solidão desequilibrada no ponto certo. Foi necessário deixar em mim e não em nós.
À minha memória saltam histórias de outros, cariz semelhante, relatos diferentes. Gosto de ter uma.
Acabo-a com sentimentos contraditórios.
Deixa estar.